Luciene Silva

Luciene Silva

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

a arte da leitura.



Comecei a escrever no momento em que percebi que só pensar não mais me satisfazia. Precisava transbordar todo aquele pensamento que só ao meu universo de idéias pertencia. Hoje, escrevo por pura necessidade, por irresistível vício e por agradável teimosia. Ainda tenho muito a aprender. Hoje não estou mais só, estou protegida, não tenho medo, nem sofrimento, só tenho uma vida a ser vivida. Angústia e apatia são sentimentos que se dissipam com o autoconhecimento; ler e escrever, escrever e interpretar, fizeram-se minhas alforrias. Como disse Mario Quintana: “Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não lêem.”
Infelizmente para mim, meu despertar foi um tanto tardio, mas oportuno. A leitura veio com flores e cheiros de primavera, com a suavidade do cheiro de terra molhada, no encanto da passagem de folhas de um livro de poemas presenteado, com a curiosidade de ver a flor ainda em botão. Cada pagina lida é uma venda retirada. O arrependimento de não ter buscado este prazer ainda na adolescência, muitas vezes, nestes últimos meses, foram meus fantasmas, porem os exorcizo lendo outro e mais outro livro.
Meu batismo literário se deu com Luiz de Aquino, meu tão querido poeta goiano. Senti-me menina ouvindo coisas maravilhosas que moram dentro dos livros. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a história. A aprendizagem da leitura que começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. A criança volta-se para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro!
Ana Maria Machado, escritora com mais de cem livros publicados, a maioria deles voltados para o público infanto-juvenil, nos ensina em "Como e por que ler os clássicos universais desde cedo" que a imposição da leitura dissemina o horror ao livro. Para ela "ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão, não um dever." A leitura deve ser um ato de prazer, de contentamento, de cumplicidade. O leitor precisa se entregar ao livro, explorando-o, decifrando-o, apaixonando-se. Segundo a autora, a leitura é "um transporte para outro universo, onde o leitor se transforma em parte da vida de um outro, e passa a ser alguém que ele não é no mundo quotidiano." Não basta apenas passar os olhos sobre o livro, de maneira despreocupada e desatenta. É necessária uma leitura contextualizada, uma leitura crítica. Devemos reter na lembrança as aventuras e informações passadas pelos livros para que possamos evoluir e nos tornar mais humanos, sociáveis e intelectualizados. A leitura é indispensável. Povo que não lê é povo submisso, engessado.
A leitura é uma “droga perigosa”: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é só deles. Fomos forçados a aprender tantas coisas sobre os textos – gramáticas, usos da partícula "se", dígrafos, encontros consonantais, análise sintática – que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto. E a missão do professor? As escolas só terão realizado a sua missão se forem capazes de desenvolver nos alunos o prazer da leitura. O prazer da leitura é o pressuposto de tudo o mais. Quem gosta de ler tem nas mãos as chaves do mundo.


Luciene Silva

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